Por Carlos Roberto Husek, professor da PUC/SP de Direito
Internacional e um dos coordenadores da ODIP – Oficina de Direito Internacional
Público e Privado.
Segundo Plotino, filósofo grego, existem três tempos, e os
três são o presente. Um o presente atual, o momento que falo, que mal
transcorrido um segundo, já é passado, ao qual damos o nome de memória; o
outro, o presente do futuro, o que imaginamos que virá a ser. Na verdade, só
existe o passado, que se faz presente a cada átimo de segundo, e só existe o
futuro, o sonho. O presente é quimérico, embora devêssemos nele nos concentrar
e fazer valer, para melhor usufruir a vida.
Lembro de uns versinhos anônimos:
“O tempo não me dá tempo
De bem o tempo fruir,
E nesta falta de tempo,
Nem vejo o tempo fugir.”
Tenho cá a minha própria frase: O meu presente é o passado
revivido e o meu futuro é o presente imaginado.
É tempo de recomeçar, de fluir, e depois, terminar, que
morrer é só um tempo futuro, que sempre acontece no presente, e permanece na memória
dos que ficam, sempre no agora, incrustrado nas células, que a seu tempo
presente, a faz concretamente manifesta.
Não sei o porquê escrevo isso!
Talvez o tempo das chuvas, o tempo das águas do Rio Grande do
Sul, o tempo dos desastres, que já era passado na memória dos gaúchos e se
transporta para o futuro na memória do desastre presente.
E o governo? Só vive no presente oco de realizações passadas,
e oco de possibilidades futuras: um governo sem memória, esse que aí está, e
talvez, sem futuro.
As águas vieram do rio, da lagoa, do mar, do vento e varreram
tudo, que não foi administrado a tempo. Só restou o olhar baço do Caramelo,
vinte e quatro horas seguidas, petrificado, em cima do telhado, olhando sem
entender o cerco líquido que o impedia de trotar e que o impulsionava à morte.
“Everymore” diria o Corvo negro de Poe, sobre a cabeça branca
de Palas Atenas, na escuridão da biblioteca.
“Segunda
vez neste momento,
Sorriu-me
triste o pensamento;
Vou sentar-me defronte ao corvo magro e rudo;
E
mergulhando no veludo
Da poltrona
que eu mesmo ali trouxera,
Achar procuro
a lúgubre quimera,
A alma, o
sentido, o pávido segredo
Daquelas
sílabas fatais,
Entender o que
quis dizer a ave do medo
Grasnando a
frase: ´Nunca mais.`”
(O Corvo de Edgard Allan Poe em tradução de Machado de Assis)
“Morrer, dormir. Dormir? Sonhar, quem sabe?”
Shakespeare
Foi tudo passado. Esperamos!